Janeiro: “O disco acaba de manhã, como acabam muitos dos meus dias”

É uma das maiores promessas na música nacional, quebra estereótipos, rejeita rótulos e canta com alma e em português. Em entrevista, Henrique Janeiro apresenta-nos “Fragmentos”, o seu primeiro álbum de originais, já disponível na loja Fnac do nosso Centro!

Como é que a música apareceu na sua vida?

A música aparece na minha vida de uma forma muito orgânica, através da minha família. Lembro-me das viagens de carro a ouvir discos e discos, dos momentos em que o meu pai me sentava a ouvir um disco na sala de nossa casa até ao ponto em que me oferece um violino e eu depois decido trocá-lo por uma guitarra.

Lembra-se da primeira canção que fez? De que falava?

As primeiras canções que fiz eram todas em inglês, onde me era muito mais fácil (e continua a ser) escrever coisas que depois soem bem cantadas – em língua portuguesa é mais difícil escrever porque é muito mais fechada, e a maioria das palavras não soam tão bem. Eram sempre canções sobre relações ou com poemas de amigos sobre formas de ver a vida.

Quais as suas principais referências e inspirações? Cresceu a ouvir o quê?

Muita coisa diferente. A minha mãe deu-me a parte do Brasil, desde a Bethânia à Gal, ela ouvia muito o Caetano também. E o meu pai mais a parte do rock e das canções, do Rui Veloso ao Lou Reed.

A literatura é outra das suas grandes paixões. As palavras têm um peso e um valor especialmente importante na sua música? Porquê?

Não conseguiria fazer música se não tivesse nada para dizer, todos os dias tento que exista uma proposição artística em tudo o que faço. A palavra é mãe na narrativa. Dar um segundo sentido às minhas palavras é um dos objetivos que tenho quando escrevo, para que a interpretação de cada pessoa das minhas letras possa ser livre.

O amor é um tema transversal nas suas composições. É ele que mais o move e comove na música?

Completamente. Serei sempre um eterno apaixonado e admirado com vida.

Qual a sua verdadeira essência como compositor? O que pensa trazer de novo a este “novo fôlego” do panorama musical português? 

É difícil para mim auto-analisar-me ao ponto de conseguir dizer qual é a minha verdadeira essência, mas o que quero tentar trazer de novo à música portuguesa é uma roupagem moderna às canções feitas à guitarra por um cantautor, juntar estilos diametralmente diferentes e talvez ambicionar criar uma nova sonoridade.

Como surgiram as Janeiro Sessions (série de vídeos no YouTube)? Qual a sua intenção/objetivo nestes momentos musicais partilhados descontraidamente num sofá?

Surgem como uma necessidade de defesa, para conseguir chegar perto das pessoas. A intimidade que existe e que se transmite numa conversa de sofá e dumas canções cantadas à guitarra é incomparável à que é transmitida quando lanças um videoclip.

Quem gostaria de convidar e ainda não teve oportunidade?

O Camané. Estou a pensar nele há imenso tempo. Mas já tenho os convites feitos a uns artistas para continuar a série.

Ficou conhecido do grande público ao participar no Festival da Canção. Como foi essa experiência e o que lhe trouxe de positivo e negativo?

Foi muito positiva! Sinto que acabei por estar em contacto com a indústria toda, e a direção artística do Festival, o Henrique Amaro e Nuno Galopim, fizeram um excelente trabalho na escolha dos compositores o que fez com que o ambiente fosse jovem e descomprometido. Além disso, pude receber um elogio de um cantor que admiro tanto, o Marcelo Camelo, o que valeu pelo Festival inteiro.

De que forma foi pensado e construído “Fragmentos”? 

O disco saiu dia 1 de Junho deste ano mas eu só o acabei pouco antes. Foi um processo ao longo de 2 anos, pensado e co-produzido por mim e pelo Kid, João Gomes, onde reuni as 12 canções em português escritas e compostas por mim com as quais me identificava mais e que achava que funcionariam como uma boa introdução do que sou. As #trips funcionam como separadores e ao mesmo tempo mostram o outro lado do estúdio em que a banda está a improvisar.

“Canção Para Ti” e  “Preguiça” são dois singles que entram mesmo no ouvido. Consegue destacar uma música do álbum que seja mais especial ou que tenha uma história engraçada?

Isso é bom de ouvir! Para mim a canção que melhor me descreve é a que fecha o álbum, “Manhã”. O álbum é muito auto-biográfico, e eu sou muito noctivago: o disco acaba de manhã como acabam muitos dos meus dias.

O que ainda lhe falta fazer/conquistar? O que podemos esperar do Janeiro este ano?

Este ano, depois de ter fechado o disco, quero rodar a banda o mais possível e tocar o disco o mais possível. Também queria tentar viajar um pouco para poder parar de pensar sobre tudo isto e ganhar perspectiva.

Com quem gostaria de fazer um dueto? 

Gostava de ver o que acontecia se fizesse um som com o Branko.

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