Insucesso Escolar

Quando se tem um filho sem problemas de saúde, é uma maravilha vê-los crescer. Quer dizer, não é que não seja uma maravilha idêntica ver crescer os que não têm saúde (por vezes, pela improbabilidade das suas conquistas, poderá até ser mais) mas é a outro aspeto que me refiro.

Todas as etapas do crescimento são motivo para uma vaidade parental indisfarçável: o Luisinho já anda (e começou tão cedo), a Carminho diz tantas palavras e faz frases incríveis (e começou tão cedo), o Joãozinho tem um extraordinário ouvido para a música, olha tão bem que ele canta e dança (e começou tão cedo).

“Tudo é deslumbrante, até que entram para a escola e, de repente, os pais descobrem que não são assim tão brilhantes”

Tudo é deslumbrante no desenvolvimento infantil. Os dentes, os sorrisos, a forma espertíssima como brincam com os cubos, as coisas espantosas que dizem. São uns verdadeiros génios, os nossos filhos. Tão precoces. Até que entram na escola e, de repente, os pais descobrem que não são assim tão brilhantes. Com efeito, o percurso escolar pode ser, para os pais sortudos de filhos saudáveis, o primeiro momento de frustração entre aquilo que sonharam e o que lhes tocou na rifa. O primeiro fosso entre a expectativa e a realidade. De repente, eles que até tinham um filho que foi o primeiro a andar, o primeiro a falar, o mais engraçado, despachado e esperto entre os filhos dos amigos, passam a ter um puto com negativa a Matemática, notas sofríveis a Português e demais disciplinas, um quatro a Ginástica só para disfarçar.

Também pode acontecer que os miúdos correspondam ao sonhado e que saquem notas dignas de registo, enchendo os pais de um brio que vão querer partilhar nas redes sociais (sem que os possamos criticar). Afinal, é quase impossível passar pela parentalidade sem querer que os filhos sejam saudáveis, bonitos e espertos. De preferência mais saudáveis, mais bonitos e mais espertos do que os pais foram e são. E quando isso não acontece… há sempre uma espécie de luto que tem de se fazer. O luto das expectativas criadas. Só assim pode seguir-se em frente e continuar a amar incondicionalmente o filho real, e não o imaginado.